Confessionais
Campanha da Fraternidade 2025: construindo novos futuros
Publicado em 01 de agosto de 2024
A Campanha da Fraternidade de 2025 surge como uma oportunidade para refletirmos sobre a fraternidade e a ecologia integral, temas que são essenciais para a construção de um futuro mais sustentável e uma sociedade mais compassiva, formada por cidadãos conscientes.
É nesse contexto que o Poliedro, comprometido com a formação integral dos estudantes e com o desenvolvimento contínuo das instituições de ensino, convidou o especialista Pe. Dr. Rogério Ferraz de Andrade para o quinto e último conteúdo da série de temas voltados para a comunidade de escolas confessionais.
Leia também os temas anteriores:
- Pacto Educativo Global: um chamado para transformar o mundo
- A governança da Escola Católica à luz dos valores institucionais
- Ensino Religioso: um componente para o currículo brasileiro
- Educar para a tecnologia: um desafio para Escolas Católicas
Pe. Dr. Rogério Ferraz de Andrade possui licenciatura em Letras, bacharelado em Teologia, pós-graduações em Metodologia de Ensino da Bíblia e Psicopedagogia Institucional, mestrado em Educação, MBA em Recursos Humanos e doutorado em Letras. Além disso, tem vasta experiência como diretor de escolas católicas e da Faculdade La Salle-Estrela. É autor de livros e artigos nas áreas de educação, linguística e filosofia, além de secretário executivo da CNBB – Sul 3, assessor pedagógico de várias redes educacionais, coordenador da Pastoral da Educação no Rio Grande do Sul e diretor do curso de Letras da Unicruz.
Acompanhe a seguir o conteúdo do especialista na íntegra.
A Campanha da Fraternidade de 2025 quer ajudar-nos a refletir sobre a Fraternidade e a Ecologia Integral e apresenta-nos como lema “Deus viu que tudo era muito bom!” (Gn 1, 31), recordando-nos que em tudo estão as digitais do criador e que nada do que foi criado é dispensável ou inútil. A atual crise socioambiental revela-nos a urgência de repensar nossas relações com as demais criaturas, com Deus, com as outras pessoas e conosco mesmos.
Sabe-se que nem tudo depende do ser humano. A natureza segue seu próprio ritmo. Entretanto, é possível, por meio da nossa reeducação, conscientização e do desenvolvimento de novas relações com tudo que nos rodeia, minimizar alguns impactos que poderão, segundo especialistas, levar à extinção da vida na Terra.
1 – Cuidar da vida: tarefa de todos
“A interdependência das criaturas é querida por Deus.” (Catecismo da Igreja Católica, 343)
Nós, seres humanos, dependemos de outros seres e da própria mãe Terra para sobreviver. Tudo o que consumimos depende da natureza, que nos doa generosamente a possibilidade de produzir alimentos e garantir a continuidade da espécie humana. Não podemos nos considerar autossuficientes e capazes de viver se não garantirmos também a existência dos diferentes biomas e das outras criaturas que habitam o nosso planeta, como bem nos recordou o Papa Francisco na Laudato Si, número 92: “Tudo está relacionado, e todos nós, seres humanos, caminhamos juntos como irmãos e irmãs numa peregrinação maravilhosa, entrelaçados pelo amor que Deus tem a cada uma de suas criaturas […]”.
Somos responsáveis pelo que acontece ao nosso redor. Temos consciência de que “tudo está interligado” e somos parte de um todo que precisa ser preservado, para que também nós possamos viver com mais equilíbrio e saúde.
2 – Tudo que Deus criou é muito bom
A narrativa bíblica da criação envolve-nos num cântico de amor à vida. Segundo o autor sagrado, no livro do Gênesis, Deus vai criando e vai constatando a beleza daquilo que vai ganhando vida por meio de suas mãos de artífice.
A capacidade intelectiva do ser humano deverá ser usada para proteger e incrementar a criação, tornando-a ainda mais bela e admirável. Dessa forma, à humanidade não é concedida a posse, mas o cuidado. Tornamo-nos corresponsáveis em zelar pelo que nos garante viver em harmonia e equilíbrio, conforme Gênesis 1, 26-31.
Tudo o que foi criado é muito bom. A vida é plural e diversa. O biólogo Eduard Wilson criou o termo biodiversidade, que aparece pela primeira vez em 1988, para falar da enorme variedade de espécies que habita o planeta. Assim, toda vida é importante, desde as captadas apenas pelo uso do microscópio até aquelas que nossos olhos alcançam e com as quais nos surpreendemos.
3 – Uma crise de humanidade
As últimas décadas têm revelado alterações ao redor do planeta que, em várias ocasiões, apresentam consequências catastróficas. A história registra inúmeros momentos de alternância entre a harmonia e a implacável ação da natureza.
Dentre as causas de tantas transformações encontra-se a ação humana, que impacta diretamente as questões climáticas, tais como a devastação das florestas nativas, a poluição dos rios, a geração de lixo e seu acúmulo, sem esquecer a extinção de comunidades e culturas, devido ao estilo consumista de vida que adotamos e outros fatores correlativos.
A crise socioambiental tem, entretanto, sua raiz na crise antropológica, uma vez que temos ensinado e aprendido a consumir sem pensar no que resultará ao planeta e às futuras gerações esse nosso jeito de viver hoje. Trata-se, pois, de uma crise de valores, uma vez que a economia suplanta a dimensão política e comunitária e, na maioria das vezes, detém a palavra final.
4 – Campanha da Fraternidade 2025: a Ecologia Integral e a centralidade da vida
Nossas escolhas falam sobre quem somos. Gleiser (2024, p. 83) inspira-nos a pensar a partir desse paradigma ao afirmar que: “A nossa existência não é apenas uma questão científica, que depende da nossa posição no universo. É, também, uma questão existencial que depende dos nossos valores e de escolhas morais, e que necessita de perspectivas múltiplas […]”.
Sob esse prisma, levanta-se a questão sobre o futuro que desejamos, baseado nas opções que estamos fazendo no presente. Faz-se necessário um olhar capaz de contemplar novos horizontes considerando as diversas dimensões que compõem a vida. Precisamos pensar numa Ecologia Integral, que contemple todas as esferas da existência. Trata-se de pensar a questão biocêntrica, isto é, a centralidade da vida, conforme proposto por Gleiser (2024, p. 212), afirmando que essa forma de ver e pensar o mundo emerge da consciência de que “[…] todo planeta que abriga a vida é sagrado. E o que é sagrado precisa ser reverenciado e protegido”.
5 – Biocentralidade: educar-nos para um novo jeito de viver
A temática da Ecologia Integral proposta pela Campanha da Fraternidade 2025 quer ajudar-nos a pensar um novo jeito de viver. À educação cabe a tarefa de ajudar a proporcionar experiências e hábitos mais saudáveis e menos consumistas. Os currículos precisam ajudar a construir esse novo jeito de viver que ultrapasse a dimensão da chamada educação ambiental, que, muitas vezes, acaba ficando apenas na teoria. É preciso ajudar a desenvolver a cultura do cuidado da vida em todas as suas dimensões. Algumas dicas para integrar essa dimensão nas práticas educativas podem ser:
– práticas colaborativas de confecção de alimentos;
– aquisição de produtos locais para a confecção da merenda dos estudantes;
– criação de laboratórios de sustentabilidade ambiental nos colégios;
– visitas a comunidades de povos originários e quilombolas e a sítios de preservação ambiental;
– inclusão da história do universo nos currículos.
– laboratórios de espiritualidade que ajudem a conectar os estudantes com a natureza.
6 – Campanha da Fraternidade 2025: Construindo novos futuros
Os momentos de crise podem tornar-se oportunidade de mudanças e transformações para melhor. Há muitas iniciativas e projetos de conscientização indicando que somos capazes de viver com mais harmonia e equilíbrio. O futuro será o que a gente quiser, mas também o resultado de tudo o que assumirmos hoje. Daí a importância de pensarmos no que é verdadeiramente importante e quais sacrifícios valem a pena em prol do todo, que é a vida da Terra. Olhar para o planeta que habitamos e reconhecer nele a mãe que nos dá a vida, aprimorar-nos na cultura do bem-viver, a exemplo dos povos primitivos da América, qualificar nossos currículos educacionais para que promovam em todos um olhar terno e afetuoso para com todas as formas de vida pode ser o começo de um novo futuro, garantindo às próximas gerações a mesma generosidade com que fomos acolhidos quando aqui chegamos.
REFERÊNCIAS
FRANCISCO, P. Laudato Si’: sobre o cuidado da casa comum. Brasília: Ed. CNBB, 2015.
GLEISER, M. O despertar do universo consciente: um manifesto para o futuro da humanidade. São Paulo: Record, 2024.
Como o Poliedro apoia as Escolas Católicas?
No Poliedro, acreditamos em uma formação integral e alinhada a valores. Por isso, as escolas confessionais de todo o Brasil que utilizam o Poliedro Sistema de Ensino encontram em nossa equipe o suporte necessário para cumprir sua missão da melhor forma possível, além de iniciativas como eventos e conteúdos que fortalecem seu compromisso com uma educação mais compassiva.
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