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Confessionais

A governança da Escola Católica à luz dos valores institucionais

Publicado em 28 de junho de 2024Atualizado em 04 de julho de 2024.

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A governança escolar é essencial para garantir que os valores sejam efetivamente aplicados no dia a dia das instituições de ensino, especialmente nas Escolas Católicas. O Poliedro Sistema de Ensino destaca essa importância, já que acredita em uma educação que vai além do conhecimento acadêmico, focando também a formação de princípios.

Com o objetivo de compartilhar conhecimentos que contribuem para o desenvolvimento contínuo das escolas, o Poliedro apresenta neste artigo a opinião do especialista Jorge Alexandre Bieluczyk sobre o tema “A governança da Escola Católica à luz dos valores institucionais”. Este é o segundo conteúdo de uma série de temas valiosos para a comunidade de escolas confessionais.

Leia também o primeiro conteúdo: Pacto Educativo Global: um chamado para transformar o mundo.

Jorge é diretor educacional da Rede Notre Dame e possui mais de 20 anos de experiência em instituições de Ensino Religioso, ocupando posições de gestão. Ele também atuou como membro de conselhos da Rede La Salle e como vice-presidente da Associação Brasileira de Educadores Lassalistas.

Acompanhe a seguir o conteúdo do especialista na íntegra.

Contexto histórico e atual da gestão nas Escolas Católicas

Vivemos uma época de mudanças aceleradas e pautadas não mais no modo de produção, assim como na era industrial, mas no processo, que é potencializado pelo saber intrínseco ao que denominamos produto. Esse não é apenas o resultado de uma força manipulada pelo humano ou pela mecânica, senão a representação da aplicação de saberes e de energia que elucidam a realidade científica, a inovação e os valores institucionais. É nesse cenário, marcado pela sociedade do conhecimento e de transformações profundas no modo de ser, fazer e viver juntos, que a educação, enquanto direito básico e universal, ganha uma conotação de mercado, recebendo atenção especial por parte de especialistas, investidores e das agências voltadas ao desenvolvimento econômico.

No Brasil, com a promulgação da Constituição de 1988 e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação de 1996, o setor privado ganhou espaço para atuar no campo educacional, conforme o Artigo 7º, despertando o interesse de um novo perfil de mantenedores. Em outras palavras, o que estava circunscrito por atores familiares, instituições comunitárias e confessionais, e o setor público, passou a ter a atuação de indivíduos e grupos focados no retorno econômico-financeiro dessa atividade comercial. Com isso, o monopólio das instituições confessionais passou a ruir e a sofrer o impacto de uma nova forma de compreender e conduzir a gestão administrativa e acadêmica dos estabelecimentos de ensino privados.

Com o mercado movimentado e com o aumento da concorrência, coube às instituições confessionais iniciarem um movimento de remodelagem das formas de atuação em vista da perenidade dos valores institucionais. Nessa conjuntura, muitas instituições católicas passaram a se organizar como rede e a ressignificar a gestão, criando novas dinâmicas e novas estratégias para dar conta das demandas mercadológicas impostas pelos novos entrantes e pelo mercado agressivo e impiedoso. A partir disso, a pauta dos gestores das Escolas Católicas tem sido recheada de formações, debates, planejamentos e encaminhamentos com foco nas boas práticas de gestão administrativa e acadêmica, ressignificando frequentemente o modelo de planejar, organizar, liderar e acompanhar a vida da instituição.

Considerando esse quadro e todas as suas circunstâncias, as quais imprimem desafios e exigências por dinâmicas de aperfeiçoamento sistemático, a gestão da Escola Católica tem demandado das lideranças atitudes equilibradas entre técnica e humanização, visto o chamado para continuarmos sendo fiéis criativos na vivência dos valores institucionais. Em outras palavras, os valores e a tradição humanizadora da Escola Católica têm se firmado, no contexto mercadológico, como diferenciais, diante do contexto humano e social que estamos vivendo.

Nas linhas abaixo, discutiremos rapidamente os desafios da Escola Católica no âmbito interno, os quais perpassam, antes de tudo, por uma remodelagem no modo de governar, definindo melhor as esferas da família, da propriedade e da gestão. Em seguida, resgatamos o fio condutor do pensar e fazer da Escola Católica, o qual é expresso pelos valores institucionais e pela marca do carisma. E, por fim, dialogaremos sobre os tópicos supracitados, procurando enfatizar a necessidade de avançar no aperfeiçoamento da governança, sem perder o diferencial cultivado e experienciado na tradição de cada Escola Católica, chamado de carisma.

 

Os desafios da Escola Católica

Em meio à complexidade dos nossos tempos e do mercado educacional brasileiro, o qual traduz a educação numa perspectiva de mercado, a Escola Católica tem sido desafiada, no âmbito interno, a remodelar a compreensão, a organização e seus processos de gestão, mantendo o foco na perenidade da missão. As provocações são contundentes e, por vezes, não tocam apenas os aspectos estratégicos, táticos e operacionais que envolvem o “negócio” educação, mas a essência institucional que integra e perpassa pelos aspectos da família, da propriedade e da gestão. Nesse sentido, um dos desafios, senão o maior, da Escola Católica no contexto brasileiro tem sido equalizar essas três dimensões sem perder a sua essência, perante as demandas dos tempos atuais e o compromisso com os elementos fundacionais.

Com a diminuição do número de membros da família (religiosos[as] e sacerdotes), os quais normalmente circulam pelas três dimensões supracitadas, a Escola Católica passou a incluir e a ressignificar o lugar e a participação dos(as) colaboradores(as) leigos(as) no desenvolvimento e na continuidade da missão. Diante desse cenário, que se manifesta de maneira específica em cada instituição, e das demandas do mercado educacional, que exigem cada vez mais agilidade, planejamento, estratégia, investimento, inovação, criatividade e demasiada resiliência, as respostas e as iniciativas em marcha em muitas instituições confessionais têm visado aperfeiçoar o sistema de governança à luz dos valores e das boas práticas de gestão. Entender qual é o melhor sistema, ajustando-o de acordo com as possibilidades jurídicas e canônicas, tem resultado numa caminhada de transformação e potencialização das instituições que se dispuseram e ousaram em pensar e trilhar novos caminhos.

Desde os marcos fundacionais, as instituições católicas foram marcadas por um estilo administrativo de natureza familiar, em que os membros da família desempenhavam papéis de memória, coração e garantia da operação da missão. No entanto, diante das exigências e da complexidade dos tempos atuais, essas instituições estão empenhadas atualmente em adotar princípios de governança que promovam uma atuação mais ágil, participativa e objetiva. Os esforços para atualizar os modelos de governança buscam afastar-se de práticas, tais como: “paternalismo, o protecionismo, as interferências indevidas, a centralização e as dificuldades em compartilhar o poder decisório, as decisões baseadas em aspectos emocionais, bem como a confusão entre os aspectos patrimoniais e financeiros, entre outros” (IBGC, 2016, p. 24).

Remodelar a governança, além de ser um desafio constante para muitas instituições católicas, coopera na organização e no delineamento do funcionamento da esfera da família, da propriedade e da gestão, visto que numa condução de natureza familiar, essas dimensões tendem a se confundir e a tornar morosos os processos e a tomada de decisão.

Na figura baixo, reproduzida dos Cadernos de Governança Corporativa, publicados pelo Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (2016, p. 14), é possível compreender um pouco melhor a realidade de muitas instituições confessionais que mantêm, majoritariamente, a operação sustentada num modelo de governo familiar. Quando uma pessoa veste mais de um chapéu dentro desse sistema, há uma forte probabilidade de haver conflitos de interesse e confusão de papéis, visto que existe uma natureza específica para cada uma das esferas citadas. Assim, família e empresa precisam ser entendidas dentro de suas finalidades, nas suas formas de ser no cotidiano, uma vez que se consideram importantes a ação e a presença dos membros da família no negócio.

 

Governança da Escola Católica

Por fim, cada esfera deve ser organizada e gerenciada de acordo com sua própria natureza, suas diretrizes e seus documentos, ou seja, a família conforme o protocolo ou constituição familiar, a propriedade de acordo com os sócios e a gestão na linha do planejamento estratégico e o sistema de governo da instituição. Para alcançar a maturidade e fazer com que toda essa engrenagem funcione de forma alinhada, consoante às diretrizes do topo da instituição, faz-se necessária uma caminhada paulatina de remodelagem do formato da estrutura de governo. Essa tem sido fundamental para potencializar a missão da Escola Católica diante dos diversos desafios que o mercado educacional brasileiro desencadeia nos cenários interno e externo da instituição.

 

A força da Escola Católica perante os desafios

Diante de tantos desafios que marcam as instituições confessionais na sociedade atual, há uma força originária que permite olhar para o futuro com esperança e fazer do ambiente educativo um espaço de humanização. A Escola Católica, por sua essência e tradição, continua sendo chamada a promover a educação integral, produzindo sentidos e significados que possam transformar e tocar o coração das gerações em vista de um mundo melhor. Esse referencial, que se traduz na força e num modo peculiar de ser e fazer educação evangelizadora, consiste nos valores institucionais decorrentes do carisma confiado pela Igreja aos fundadores das instituições religiosas.

Dialogando com a realidade na qual a Escola Católica está inserida, os valores evocam constantemente, à luz da fé e do compromisso dos fundadores com o Evangelho, uma leitura crítica e criativa dos sinais dos tempos. Assim, todos os que se dedicam à missão católica são convocados a assumir a atitude de fermento, que silenciosamente contagia, envolve e atinge toda a mistura, fazendo-a crescer por inteiro e a cumprir sua missão de alimentar, de modo simples e objetivo, aqueles que mais precisam. É no sentido do fermento que os valores institucionais podem ser experienciados e vividos por todos os que levam adiante a Escola Católica, sejam os membros da família religiosa, sejam os(as) leigos(as), expressando a identidade confessional e seu propósito com o Evangelho.

Assumindo um caráter aberto e dialógico com o mundo, a base axiológica exige uma práxis encarnada na realidade. Assim agiram os nossos fundadores, os quais entenderam os clamores de sua época e apresentaram respostas concretas e de alta relevância para gerar transformação na vida de crianças, jovens e adultos. Nessa perspectiva, podemos nos perguntar: como e em que realidade o carisma institucional continua nos tocando? Nossas respostas institucionais respondem ao seu propósito? Estamos sendo fiéis a sua essência, ao mesmo tempo que remodelamos a nossa forma de ser e agir institucionalmente nos dias de hoje? Enfim, a chama do carisma e suas implicações continuam nos aquecendo e nos orientando na compreensão, na construção e no fazer a Escola Católica inovadora, atual e comprometida com os seus valores e com a humanização.

A força motora da missão católica está além da “moda educacional” que perpassa e conduz o mercado da educação brasileiro, pois se trata de uma potência axiológica que une, anima e conduz a experiência individual e coletiva. Em outras palavras, trata-se de um laço de fé e compromisso transcendental visível nas relações de cuidado e transformação da pessoa.

 

A governança à luz dos valores institucionais

Considerando os desafios que enfrentamos nos tempos atuais, relativos ao processo de remodelagem da governança das instituições confessionais, é possível visualizar o presente e o futuro pautado em um árduo, longo e frutífero trabalho. Afinal, há razão para a Escola Católica continuar existindo na contemporaneidade. Uma releitura do espírito e das atitudes fundacionais pode encorajar e possibilitar novas perspectivas no modo de ser, viver e fazer a Escola Católica do século XXI.

Embora cada instituição viva seus desafios relativos à sustentabilidade, ao projeto educativo, à inovação, à realidade da vida religiosa etc., entendemos ser necessário pensar e organizar um sistema de governança que fortaleça a missão institucional. A inércia e a resistência diante dos acontecimentos e das tendências no âmbito da gestão podem levar à falência de muitas instituições centenárias, visto a dificuldade de responder rapidamente às mudanças dos novos tempos. Compreender e ajustar os modelos existentes, com prudência e segurança técnica, envolve um movimento de cooperação entre os membros da família religiosa e dos(as) leigos(as), formação e participação, reposicionamento dos(as) membros(as) da família e dos(as) leigos(as) no campo da missão, trabalho em rede, tomada de decisão ágil, investimento na inovação, expansão dos serviços, criatividade na comunicação dos valores, compromisso e zelo com os valores institucionais na vida diária da escola etc.

Governar à luz dos valores exige coragem e fidelidade ao movimento fundacional, à tradição institucional e com a transformação da vida que clama por fraternidade, justiça e solidariedade. O esforço da Escola Católica em ajustar e avançar com novas perspectivas de governança não consiste numa ação exclusivamente de luxo ou mercadológica, mas numa ação estratégica que assegure a perenidade do carisma em cada contexto de missão. Assim, a governança apresenta-se como meio ou mecanismo de dinamização de princípios e propósitos que superaram a individualidade, mas que encontram sentido na comunidade que educa e humaniza.

Por fim, a Escola Católica tem vivido tempos de reconstruções e ressignificações em todos os sentidos. Indicativo de atenção, preocupação e ação concreta para enfrentar os desafios que assolam cada instituição. Porém, diante desses movimentos de ajustes e árduo trabalho, continuamos acreditando e sendo animados pelos valores que nos são mais caros e que definem nosso modo de ser e fazer educação, o carisma encarnado na realidade em que estamos inseridos.

 

Governança inovadora: esperança na transformação das Escolas Católicas

Remodelar para continuar governando com esperança e com foco na transformação é uma das demandas da Escola Católica atual. Instrumento de dinamização da missão e enfrentamento dos desafios, a governança tem sido debatida e refletida de maneira intensa diante das adversidades e do modelo mercadológico da educação brasileira. Ajustes nos sistemas estão sendo necessários para facilitar e potencializar os processos de gestão administrativa e acadêmica, uma vez que há uma nova característica do cenário e da operação da Escola Católica, em sua forma de organização, e um contexto externo competitivo ao extremo.

Sendo assim, aprimorar a organização permite visualizar novas oportunidades, fortalecer a eficiência e a eficácia, reestruturar processos, papéis e alçadas de decisão, planejar e acompanhar a sustentabilidade econômico-financeira, acadêmica e pastoral com mais assertividade, inovar e ser uma escola viva e conectada com o passado, o presente e o futuro. Para isso, o processo precisa continuar com mais abertura, coragem, cooperação, sinodalidade e sensibilidade com o que somos e com o que precisamos e queremos ser.

O momento é de transição e renovação. Coragem e ousadia com a esperança de quem um dia nos chamou para cooperar com o projeto humanizador da Escola Católica.

 

Referências

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF, 2016. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 2 fev. 2021.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GOVERNANÇA CORPORATIVA. Governança da família empresária: conceitos básicos, desafios e recomendações. São Paulo: IBGC, 2016. Disponível em: http://www.ibgc.org. Acesso em: jun. 2024.

 

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  • Gestão Escolar

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