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Mudanças na alfabetização a partir da BNCC: novos desafios!
Publicado em 06 de abril de 2022
Os primeiros anos da educação básica sempre foram desafiadores para educadores e escolas. Um dos motivos é a inserção da criança no ensino básico sob todas as exigências normativas que essa etapa estabelece.
Com a entrada em vigor da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), aprovada em 2017, o principal foco de mudança é a exploração do uso social da linguagem, especialmente a partir da diversidade textual.
Confira, no texto a seguir, quais são as mudanças em relação à alfabetização que foram inseridas pela BNCC e como trabalhar essas modificações no dia a dia da escola, promovendo ganhos e avanços para os estudantes ingressantes do Ensino Fundamental!
BNCC, críticas e avanços
Os diversos caminhos para se alfabetizar no Brasil sempre estiveram sob forte disputa pedagógica. Com a aprovação da BNCC, essa diversidade segue e é alvo de estudiosos em linguagem e alfabetização.
Embora a ideia da BNCC seja ampliar ainda mais o uso social da linguagem (por isso, o foco do ensino aprendizagem é a ampliação dos gêneros textuais), críticos alegam que os conceitos sociointeracionistas e construtivistas na nova legislação seriam apenas uma capa moderna e crítica para esconder metodologias tradicionais e profunda defasagem no ensino brasileiro.
Essa crítica, no entanto, não é nova. Ao longo das primeiras décadas do século XXI, os resultados da educação no Brasil demonstram que, mesmo com esforços para que as formas críticas de alfabetizar sejam colocadas em prática, as metodologias em sala de aula seguem deficitárias e conservadoras.
O fato de conhecer as críticas, os pontos fortes e fracos da nova legislação precisa contribuir para nosso trabalho como gestores e educadores. Assim, a partir da nova BNCC, como trabalhar efetivamente a alfabetização significativa na rotina escolar?
Campo de atuação como eixo estruturante
Essa é uma das modificações na alfabetização trazidas pela BNCC que mais trouxeram dúvidas para a prática pedagógica. Isso porque os eixos são considerados no mesmo patamar das práticas de linguagem, o que modifica potencialmente o trabalho na escola.
Os eixos trazidos pela BNCC são vida cotidiana, eixo artístico-literário, práticas de estudo e pesquisa e vida pública.
Sugestões para a prática pedagógica
O fundamental para utilização de eixos e práticas de linguagem simultaneamente é realmente entrelaçar a prática de sala de aula. Uma ótima ideia é trabalhar leitura e escrita utilizando textos dos quatro eixos. Para facilitar esse tipo de entrelaçamento, uma ótima ideia é aplicar metodologias ativas em sala de aula.
Na vida cotidiana, é possível trabalhar placas, anúncios e rótulos, dependendo da idade da criança, assim como a produção dessas formas de texto, que podem ir avançando em complexidade ao longo das séries e do desenvolvimento dos estudantes.
Já na pesquisa e na vida pública é possível utilizar textos, como as placas de fundação da escola, do posto de saúde do bairro, e fazer as pesquisas sobre a história local, simultaneamente.
Alfabetização explícita
A alfabetização explícita é novidade, ao menos com essa nomenclatura, para muitos educadores. Trata-se, no entanto, da reflexão sobre a escrita.
Dessa forma, a BNCC divide os processos de alfabetização entre o trabalho com textos de gêneros diversos e o desenvolvimento da consciência fonológica, das regras da escrita e da língua portuguesa.
É o tema mais polêmico da lei, já que especialistas alegam que essa reflexão pode ser feita em conjunto e não é preciso parar as atividades com gêneros textuais, privilegiando o código e técnicas.
Sugestões para a prática pedagógica
Entre as atividades que podem ser realizadas a partir dessa modificação, estão as produções de texto reflexivas. Assim, os estudantes são levados a pensar sobre os textos produzidos, por eles próprios e pelos colegas.
Correções de textos trocados podem ser ótimas oportunidades para que os estudantes reflitam sobre as regras gramaticais da língua portuguesa. Corrigir os próprios textos e apontar as regras utilizadas também funcionam para essa reflexão.
Linguagem como forma de interação
A linguagem como forma de interação social já estava presente na legislação da educação brasileira, mas é um grande ponto de destaque na BNCC.
Para o trabalho com esse viés, é importante que educadores e gestores se apropriem dos estudos sobre discursos. A interação social feita por meio da linguagem utiliza discursos diferenciados, que podem ser escritos ou orais e que são recortados por situações diversas entre pessoas e instituições.
Sugestões para a prática pedagógica
O trabalho sobre o enunciante do texto pode ser a base para essa modificação trazida pela BNCC. Quem está falando por trás da leitura de um texto informativo, uma receita médica, um dicionário ou uma história sobre uma aldeia indígena?
Assim, a criança pode ir percebendo a quem pertencem as narrativas. Um bom exemplo é como as histórias dos povos indígenas no Brasil sempre foi contada por europeus e descendentes de europeus, já que foi retirada desses povos nativos a possibilidade de falar sobre sua própria história.
Os estudos sobre discurso sempre remetem ao uso da fala, sobre a percepção de quem é ouvido na sociedade, e são excelentes oportunidades para que os jovens produzam seus textos e exerçam as narrativas sobre eles próprios, como em jornais feitos pelos estudantes ou textos sobre a escola produzidas pelo olhar dos estudantes, dentre outras atividades.
Alfabetização em dois anos
Essa é uma modificação importante e que aperta os limites da alfabetização para as escolas, já que o tempo anteriormente estabelecido era até o terceiro ano. Apesar de considerar que a etapa correta para alfabetização é até o segundo ano do Ensino Fundamental, a BNCC reconhece o processo como contínuo e garante o restante dos anos iniciais para o trabalho ortográfico e complementar à aquisição da leitura e da escrita.
Sugestões para a prática pedagógica
A ênfase na linguagem oral, contação de histórias, uso social da linguagem, conhecimento das letras, que se inicia na Educação Infantil, já faz parte do processo de alfabetização. Além disso, muitas escolas já iniciam formalmente a alfabetização durante os primeiros anos da criança na escola.
Assim, nenhuma criança chega ao Ensino Fundamental completamente desprovida de conhecimentos sobre a linguagem, escrita e leitura. Quanto mais adiantadas as habilidades em relação à formação de palavras e leitura inicial, mais fácil será se adequar às normativas novas da BNCC.
O ideal, portanto, é que a Educação Infantil sistematize ainda mais os conhecimentos necessários e inicie os primeiros passos da alfabetização das crianças. Para isso, a qualidade do material didático é primordial.
Destaque para o multiletramento
Multiletramento é o conceito que busca abarcar as diversas formas de estar e praticar o uso da linguagem, da leitura e da escrita no mundo atual, considerando, sobretudo, as novas tecnologias.
Assim, a internet constitui uma nova ferramenta, que amplia a interação social e possui regras próprias de linguagem.
O multiletramento contido na BNCC considera os textos tradicionais e também as formas midiáticas e digitais de leitura e escrita.
Sugestão para a prática pedagógica
Em sala de aula, o ideal é inserir entre os diversos gêneros textuais, também os contidos em mídias digitais, como chats, postagens e tuítes, que estão explicitamente contidos na BNCC.
Além disso, a criança precisa ter oportunidade para ler e escrever em meios digitais, acesso a fotografias, vídeos e outras mídias, produzir e compreender suas funções sociais e realizar interações a partir desses meios.
O trabalho em sala de aula, portanto, exige flexibilidade e presença de ferramentas digitais, além de sofrer modificações nas formas de pensar o letramento e avaliar os estudantes. Nesse quesito, a formação continuada de professores é fundamental.
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