O que é multiletramento e por que essa abordagem é importante?

Homologada pelo Ministério da Educação (MEC) no final de 2018, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) é um documento elaborado por especialistas na área da educação, que visa a orientar as escolas quanto às aprendizagens essenciais em toda a educação básica no Brasil. 

Segundo a BNCC, os ensinos fundamental e médio devem estar focados na formação de estudantes protagonistas de suas próprias jornadas de aprendizado, de forma que consigam desenvolver as habilidades necessárias para a vida pessoal e profissional. 

A Base orienta que isso seja feito utilizando uma estratégia de multiletramento, uma abordagem importante, especialmente para o ensino no campo de Linguagens.

Se você quer entender melhor o que é essa competência, como ela surgiu e por que é importante para as escolas na atualidade, acompanhe a leitura deste post até o final!

O que é o multiletramento?

O multiletramento é uma proposta pedagógica desenvolvida por educadores e pesquisadores da educação linguística. 

Essa perspectiva de letramento propõe que as escolas considerem a multiplicidade de culturas, maneiras de interagir e de linguagens — como a visual, a verbal, a sonora e a espacial — no momento de ensinar e alfabetizar os estudantes. 

Ao longo dos anos, a abordagem de multiletramentos tem sido atualizada e reformulada, mas, em geral, baseia-se em quatro movimentos pedagógicos: 

• Prática situada: imersão em experiências, utilização de todos os discursos disponíveis e simulação de situações relevantes.
• Instrução explícita: entendimento analítico e sistemático de conteúdos, descrição e interpretação de diferentes modos de significação.
• Enquadramento/Postura crítica: interpretação dos significados construídos nos contextos socioculturais.
• Prática transformada: apropriação dos significados, com sua utilização em novos contextos. 

Os pesquisadores que elaboraram a abordagem de multiletramento não propuseram uma ordem para a prática dos movimentos pedagógicos, uma vez que eles são complementares, podendo se entrelaçar em qualquer ponto do processo de ensino.

Em 2006, esses movimentos pedagógicos foram revisitados por alguns autores da teoria do multiletramento e atualizados para quatro processos do conhecimento: 

• experienciar (o conhecido; o novo)
• conceitualizar (nomeando; teorizando)
• analisar (funcionalmente; criticamente)
• aplicar (apropriadamente; criativamente). 

A BNCC orienta que escolas e educadores utilizem estratégias de multiletramento em diversos contextos formativos no decorrer da educação básica, em especial no campo das linguagens. 

Isso pode ser feito construindo as práticas de leitura e produção de textos a partir das diferentes linguagens, as quais demandam letramentos diversificados. 

Como surgiu o multiletramento?

O multiletramento (originalmente chamado de multiliteracy) é um conceito criado nos anos 1990 pelo Grupo de Nova Londres (New London Group), uma equipe de dez pesquisadores acadêmicos de áreas relacionadas à educação linguística.

Eles se reuniram em 1994 no estado de New Hampshire, Estados Unidos, com o intuito de desenvolver uma proposta pedagógica adequada para a realidade contemporânea e para lidar com a influência das novas tecnologias e da globalização na sociedade. 

Essa pesquisa originou a pedagogia dos multiletramentos, sobre a qual o Grupo de Nova Londres lançou a primeira publicação em 1996, intitulada A pedagogy of multiliteracies: designing social futures (“Uma pedagogia de multiletramentos: projetando futuros sociais”, em tradução livre).

Em 2000, os pesquisadores australianos Bill Cope e Mary Kalantzis, membros do grupo, passaram a assumir as pesquisas em pedagogia. 

Juntos, eles lançaram novas publicações sobre o tema, além de atualizar alguns conceitos existentes, sempre com o objetivo de tornar o conteúdo mais relevante para o campo do ensino e do aprendizado no contexto contemporâneo digital.

Por que o multiletramento é importante para a atualidade?

No mundo atual, os cidadãos precisam estar preparados para circularem em diferentes espaços sociais, os quais exigem das pessoas a capacidade de interagir e se comunicar com flexibilidade cultural e de linguagem.

O multiletramento é uma proposta pedagógica pensada para inserir melhor os jovens nessa sociedade contemporânea, fazendo com que os estudantes estejam prontos para transitar pelos diversos espaços e situações do mundo globalizado e tecnológico em que vivemos. 

Essa abordagem incorpora uma variedade de percepções e ferramentas linguísticas, culturais, comunicativas e tecnológicas, com o objetivo de que as escolas possam formar cidadãos mais preparados para os três principais domínios da vida: profissional, pública e privada. 

A BNCC está alinhada com essa proposta e ressalta a importância dos novos letramentos na formação dos estudantes ao longo da educação básica. Isso é enfatizado especialmente no ensino de Língua Portuguesa e Língua Inglesa. 

A Base entende que “as práticas de linguagem contemporâneas não só envolvem novos gêneros e textos cada vez mais multissemióticos e multimidiáticos, como também novas formas de produzir, de configurar, de disponibilizar, de replicar e de interagir” (BNCC, 2018, p. 68).

Dentre os temas e habilidades que podem ser trabalhados pelas escolas a partir do multiletramento, podemos citar:

• o desenvolvimento de pensamento crítico em relação aos conteúdos que circulam na mídia;
• a habilidade de curadoria, pesquisa, checagem e filtragem das informações;
• as dimensões políticas do uso das mídias digitais;
• as questões relacionadas ao excesso de exposição nas mídias digitais e às fronteiras entre o público e o privado;
• os limites entre liberdade de expressão e discursos de ódio;
• a necessidade de aprender a debater ideias, considerando posições e argumentos contrários;
• o domínio das linguagens utilizadas no contexto digital.

Como aplicar o multiletramento em sala de aula?

Na hora de incluir a pedagogia do multiletramento em sala de aula, é necessário considerar a importância da consciência do próprio aprendizado por parte dos estudantes e a necessidade de criar um entendimento da multiplicidade de culturas e linguagens na interação com o mundo e com os demais. 

Por isso, é interessante inserir novas formas de avaliar a evolução dos jovens  na rotina escolar, deixando de aplicar somente testes e provas tradicionais e trazendo métodos de avaliação mais dinâmicos.

O trabalho colaborativo é outro ponto importante do multiletramento. Entende-se que o conhecimento escolar não deve ser passado apenas de forma direta, com foco em repetições e memorizações, e sim ter a participação ativa dos estudantes e privilegiar as interações nas aulas e atividades.

Os professores devem ainda desenvolver maneiras de mostrar aos estudantes como os conteúdos se aplicam ao cotidiano, incluindo exemplos práticos e demonstrando como utilizar os aprendizados em suas rotinas e objetivos.

O multiletramento também se concentra no uso de diferentes linguagens durante o processo de aprendizagem. 

Por isso, no dia a dia de aulas, é fundamental que os educadores incluam formatos variados de mídias, como vídeos, redes sociais, computadores, celulares, entre outros recursos, que dialoguem com a realidade dos estudantes e os motivem a aprender melhor, com perspectivas mais lúdicas e significativas.

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